Na primeira veio apenas um cavalo-bípede, já não com os seus
longos cabelos a perder de vista, eram apenas pontas soltas, hirtas,
ressequidas, mas de um olhar terno capaz de nos prender no encanto. Tinha
cavalgado muito, rio afora, e agora acabava a sua viagem ali, no purgatório,
entre a foz e um oceano de vagas infinitas.
Na segunda era uma aranha-esquálida, tenho a certeza. Ou uma
pulga-do-mar-tamanca. Tinha várias patas, isso era certinho-garantido. Na
espera sob a areia, alvejava pacientemente o momento… nunca saberei ao certo qual
era, pois sem que nada o fizesse prever um cão cravou-lhe os dentes e levou-a,
salivando alegremente pelo horizonte.
Na terceira, uma peixa-voador-de-sobrancelha-carregada
gritava a plenas guelras pelo seu filho, que se afastava perigosamente para as
rochas.
E então instalaram-se as marés vivas e de uma assentada,
como que por nevoeiro, ali estava o bufo-irreal, o unicórnio-tentacular e a
zebra-desbotada.
Mas o melhor ainda estava para voar. Imponente, garboso,
nobre e vigoroso, ali estava ele, o dragão-das-areias.
E se ali estavam todos, apenas uma coisa poderia significar,
a imaginação estava à solta e isso era tudo para um final de tarde perfeito.
O laranja do sol o consentiu e o vento o abençoou.
Até já, disse o Inverno.
Para ti J. e para o futuro que há-de vir a 3.