terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Raízes



Na primeira veio apenas um cavalo-bípede, já não com os seus longos cabelos a perder de vista, eram apenas pontas soltas, hirtas, ressequidas, mas de um olhar terno capaz de nos prender no encanto. Tinha cavalgado muito, rio afora, e agora acabava a sua viagem ali, no purgatório, entre a foz e um oceano de vagas infinitas.

Na segunda era uma aranha-esquálida, tenho a certeza. Ou uma pulga-do-mar-tamanca. Tinha várias patas, isso era certinho-garantido. Na espera sob a areia, alvejava pacientemente o momento… nunca saberei ao certo qual era, pois sem que nada o fizesse prever um cão cravou-lhe os dentes e levou-a, salivando alegremente pelo horizonte.

Na terceira, uma peixa-voador-de-sobrancelha-carregada gritava a plenas guelras pelo seu filho, que se afastava perigosamente para as rochas.

E então instalaram-se as marés vivas e de uma assentada, como que por nevoeiro, ali estava o bufo-irreal, o unicórnio-tentacular e a zebra-desbotada.

Mas o melhor ainda estava para voar. Imponente, garboso, nobre e vigoroso, ali estava ele, o dragão-das-areias.

E se ali estavam todos, apenas uma coisa poderia significar, a imaginação estava à solta e isso era tudo para um final de tarde perfeito.

O laranja do sol o consentiu e o vento o abençoou.
Até já, disse o Inverno.
Para ti J. e para o futuro que há-de vir a 3.