domingo, 30 de novembro de 2008

Pixel por Pixel











Pixel por Pixel

(ensaio desinformático)


O download do último anti-vírus voltou a dar problemas. Mas desta vez era mais grave. Azureus estava debilitado e nada o protegia da estirpe N56-Beta04 que lá fora, em ambiente hostil, dizimava ricos e pobres, brancos, pretos, rosa, placas gráficas e de silício, intelectuais de Feng Street e até, ouvira-se, elementos da Backbone. Os velhinhos Linux Pro foram os primeiros a sucumbir.


jus vitae et necis


Metrobit, Ano 2039.

UPS!!! fora descoberto, a UUencode corria agora no seu encalço. A pena por fazer qualquer download ilegal no submundo de Gateway era tão somente o apagamento por completo de todo o sistema. Não mais viagens virtuais, sexo on-demand, chats neurais, chips sem açúcar ou mesmo direito a reparações na hora. Era simplesmente banido de todo o DNS.

Mas nem sempre as comunicações foram assim. Em tempos tinha sido um programa bem comportado, jovem influente e promissor, brilhante aluno na Router School, 2º classificado no concurso de velocidade do processador e 4º nos jogos de memória por equipas, para além do honroso 1º lugar ex-aequo nos GIF awards... nada fizera prever este desfecho. E agora ali estava, correndo velozmente pelo ciberespaço, desviando-se por um lado de hackers que assomavam a cada esquina naquela web mal frequentada, e por outro, da UUencode cega por mostrar trabalho ao Grande Servidor.

Archie era o único amigo que o poderia ajudar.
Lançou o mirror em que tinha trabalhado afincadamente nos últimos meses para despistá-los e desatou, insistentemente, a inscrever a sua password no TCP/IP de Archie. Assim que o moderador lhe deu acesso, entrou com toda a largura de banda possível e esperou. Passado o tempo necessário a estas coisas, devido a um protocolo de segurança rígido e apertado, Archie utilizou o dial up fugindo assim ao controlo da UUencode que deixara de usar tão arcaico sistema.

Pertenciam ambos à Unix e eram os últimos representantes dos tempos gloriosos da Firewall. Não havia ano em que não se reunissem para falar, pela enésima vez, das façanhas que realizaram com toda a destreza e valentia na sua missão na internet. Naquele tempo sim, isso é que era, havia uma netiquette entre softwares, não era como agora em que qualquer pirralho mal programado já vinha revestido com fibra óptica à nascença, no mínimo. Mas os bps mudaram e com o passar das actualizações os utilizadores esqueceram-se deles e agora eram obrigados a viver em caches aqui e ali, vergonhosamente.

Trocaram ping’s entre si e fizeram log in. Sem delongas, as FAQ surgiram por si e não foi preciso esperar muito tempo para perceber que era chegado o momento.


ecce homo


À primeira vista JPEG não parecia simplesmente ter uma imagem à altura do intento, mas desenganem-se aqueles que acham que cresceu passando a vida em videojogos ou a enviar smileys por SMS à custa de promoções de Natal. Não, a vida tinha-lhe sido difícil e por vezes chegou mesmo a ter sérios problemas de resolução. Ultrapassou essa fase mas sempre ficou um pouco comprimido com a experiência traumatizante de ver imagens zipadas à sua frente. Pequeno mas versátil já dizia a mãe. Em offline dizia-se até que não fora o episódio, mais por curiosidade do que por vício, de ter sido apanhado, em horário de formação do Magalhães, a espreitar pelo IRC das raparigas com um domínio falso, e o seu upload poderia ter sido outro. Ficou a saber-se mais tarde que tudo partiu de uma denúncia com aviso de recepção da newsgroup da sala 3, invejosa por ter sido dotada de um modem mais lento.

Mas tudo isto eram agora gigas passadas e o presente é que interessava e JPEG era para todos os efeitos o escolhido. Este passado em tudo semelhante fez de Azureus e JPEG dois programas compatíveis, aos quais Archie acolhera e para quem tivera sempre um binário amigo. Ele era dos poucos que ainda se lembrava da importância destes na história de Metrobit.


in posterium


Apanharam várias auto-estradas da informação até chegar ao seu destino. Alojados num cibercafé, apressaram-se a colocar o primeiro disco rígido que encontraram como slave e explicaram-lhe o plano. Era arriscado, mas se conseguissem ludibriar o pérfido HTML o tempo suficiente para introduzir na forma de ficheiro oculto um blogue auto-destruidor inventado por JPEG, a batalha estaria ganha. Contavam para isso com a preciosa ajuda do cabo Firewire como agente infiltrado. Primeiro a RDIS, depois a ADSL, ambas passaram pela linha e não se aperceberam de nada e de repente 5, 4, 3, 2, 1... ERRO DE TRANSMISSÃO!!!! nada voltaria a ser como dantes e o software era livre, software livre!!! se os nossos avós estivessem aqui para festejar esta vitória da programação...

“No mundo, não mudam as ideologias, mudam as tecnologias”
Aldous Huxley

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