domingo, 23 de novembro de 2008


vagueio | passeio

(imagens urbanas .: 1)




22 para 23 . novembro. 08

Folhas secas no chão que me amparam a queda dos passos
Estação vazia de um comboio que já não passa

Calçada calafetada a beatas de outrora

Néons furiosos, sempre furiosos, em fúria



***

As veias, as artérias estão desertas
Consigo até ouvir o silêncio, chego até a ouvir o tambor

Talvez seja da noite, desta noite...


As caixas estão quase todas já fechadas
mas nalgumas o fósforo ainda arde

Alguns dos ramos mais altos das árvores dizem-me olá
Ando, ando, ando. Como se o cansaço pudesse aniquilar o pensar
No templo, as compras não param, para receber o menino que já não se vê há muitos anos
Oiço o sino baço ao longe, e a cadência abranda, abranda, abranda.
Encontro a sra. da abóbora de regresso a casa, pontual como sempre.

(A realidade está a tornar-se tão aborrecida e medonha)

A realidade está a tornar-se tão real, que realmente parece já não haver nada de interessante para realizar aqui


Há ronronares nocturnos de ansiedade lasciva que passam por mim
Coreografia quase marcada, lanço letras aos candeeiros e espero que no final possam fazer sentido, não que o procure
A escola parece-me um tarrafal, mas os guardas de moloch não estão aqui, só dão ordens
Está livre diz o Parque, está livre.
Na mensagem que interiormente já fora, expulso os ses e os mas, é a verdade que respira
Há estrelas a mais para mim na rua, o momento não é para isso
Há vapores ébrios e adolescentes no ar, sinto-me delator
Há um prenúncio de morte, anunciada, até Fevereiro, dizem-me
Cheira a enxofre mas os pés movediçam-se em petróleo


Volto a casa para buscar o cachecol. Saio com a caneta nova que agora já escreve.

Há qualquer coisa de relva nas nossas vidas, verde, confortável, extensa, fresca... mas fora dos ritmos

Sou um fiscal da noite e vagueio sem destino

Vou baptizando, lentamente a humidade o momento, o momento.


tALVEZ já não pertença aqui
tALVEZ ainda não tenha chegado

tALVEZ já não exista

tALVEZ tudo seja cíclico

tALVEZ já não haja novidade

tALVEZ qualquer coisa


Há falta de vida e de futuro nas conversas dispersas nas esquinas
Acuso o cansaço e o jardim acolhe-me por breves arfares
O castelo vigia-me, atento, atento.

Os latidos perseguem-me embora não sendo os mesmos. Muitos cães passeiam os seus donos, rédea curta

Sou atropelado imaginariamente mas, já passou... atingiu apenas a outra parte do tracejado

Há contradições latentes, pungentes, prestes a implodir-explodir, implodir-explodir
Há acasos, mas já não os chamo assim
Há qualquer coisa em mim que deseja partir a montra, sigo em frente, no caminho

Há qualquer coisa em mim em tudo isto, mas prefiro não pensar nisso, vou dormir

O segundo dia chegou a casa.

(a S. o meu par na dança desta noite)

Um comentário:

Sandra Guerreiro Dias disse...

O passeio ficou depois sem ninguém quando terminaste e foste para casa. E a noite foi outra quando passeaste. Agora a noite está onde tu estiveres.

Um abraço que dança. Vou passar a visitar, a pass(e)ar sempre :)